sexta-feira, 8 de agosto de 2014

A ausência de um pai

Raphael, o marido vivo da "viúva" Inezita!, que reaparece quando esta se enferma. Estaria por perto já havia bastante tempo, observando-a às vezes, mas nuca tivera coragem de procurá-la... até aquele momento!


❝(...)

— Quem são estas crianças?

— São minhas netas. E... também são suas, é claro! As da direita são as do Jorge: Sônia e Olga. E as da esquerda são as da Juliana: A Maria Inês e a Daniela.

— E onde estão o Jorge e Juliana?

— Faz muito tempo que se foram. Jorge está em Moscou. Foi para estudar e lá criou raízes se casou e formou família. A Juliana está em Vancouver. Fez o mesmo... de vez em quando eles me ligam.


— Ah... teria gostado de conhecer as crianças e... dar um abraço nos meninos mas... JÁ É TARDE!...❞ (BAF 121)

(...)

O que dizer daquele pai que simplesmente vai embora? Sem motivos, sem aviso, como fez Raphael Moneo, o marido da Inezita, o qual deixou no coração dos filhos um vazio e a eterna pergunta: “Será que ele foi embora por minha causa?”, “Terá sido algo que eu fiz ou falei?”... perguntas insistentes que persistiram por anos, sem respostas...

❝(...)


— Isto parece uma fotografia... A ideia que levei na mente da última vez que vi está intacta, como se ninguém a tivesse tocado! Mas o que ainda não entendo é... O que faz essa boneca aqui?


— Você a deu à Juliana quando ela fez nove anos...


— Sim eu sei. Hã... O que não entendo é... Que idade a Juliana tinha quando saiu?


— 22 anos!


— Ah! Já não era mais uma menina! Mas este quarto... Este quarto é da menina que eu deixei aqui! Até parece que ela não cresceu...


— Sim, ela cresceu, mas conservou intacto esse quarto desde o dia em que você se foi e até o dia que ela se foi! Ela quis conservá-lo intacto, porque Juliana já era uma mulher feita, mas aqui, ela continuava sendo a menina que você deixou, e não permitia que eu tocasse em nada! Porque ela dizia que aqui havia muitas recordações do seu pai! Conservou tudo até o último dia! Porque até o último dia ela sonhou em ver você aparecer entrando por aquela porta e me pediu pra não tocar em nada! Nem na boneca que você deu a ela quando ela fez nove anos e nem no porta-joias que você trouxe quando viajou para Cali! E não permitiu que eu desse o seu vestido de primeira comunhão, porque ela dizia que você a tinha levado pela mão para comprá-lo juntos! E nem nos contos de fadas que vocês dois liam a noite!...


— Chega!


— E nem nos discos com as musicas que ela dançava aos sábados e que você a ensinou a cantar!...


— Chega! Chega!


— E nem no escapulário que você colocou no pescoço dela para que a protegesse, E QUE NÃO CONSEGUIU PROTEGÊ-LA DO SEU ESQUECIMENTO E DO SEU ABANDONO!❞ (BAF 127)

(...)

Quanta mágoa!... Quanta tristeza!... Quantas perguntas que jamais serão respondidas... Talvez esse pai já tenha se arrependido muito antes, e por medo, insegurança ou vergonha jamais tenha voltado... mas diante da proximidade do inevitável, que é o abraço da morte que um dia singirá a todos, ele sente a necessidade de reconhecer seus erros e receber o perdão...

❝(...)


— Necessito que me escute!


— Passei vinte anos me perguntando o porquê! Passei vinte anos, juntando as pontas, pensando, meditando... procurando uma explicação e a única que eu encontrei foi a que você nos abandonou por uma mulher! Porque foi por uma mulher, não foi?❞ (BAF 128)

(...)

Mas a verdade, seja qual for, é dura demais para ser ouvida...

❝(...)


— É tarde demais Raphael! Já é muito tarde e também doloroso! Não, não é justo! Não é justo que você queira reviver em mim dores que já havia sepultado! EU MERECEÇO MORRER EM PAZ! Que Deus tenha piedade de você Raphael!❞ (BAF 128)

(...)

O arrependimento, neste caso, veio tarde demais, quando os filhos já estavam crescidos, tinham sua própria vida e trataram de tentar curar esta ferida no coração e deixar de lado as ilusões da infância, de que o pai algum dia voltaria... Será que esse pai ainda merece o perdão??? Mas como perdoar algo que ainda dói tanto???

❝(...)


— Se não me ouvir não me dará a oportunidade de pedir perdão a Deus porque eu não o verei! Vou diretamente para o inferno! Mas não me importa ir para o inferno, se tiver o seu perdão!
— Eu não vou escutar as suas justificativas! Eu não fiz nada pra que você fosse embora! Eu não quero te ver mais! Sai daqui! Eu não quero mais te ver!!!❞ (BAF 128)

(...)

Há mágoas e feridas que somente o Espírito Santo de Deus pode tratar... e essa é uma delas! Inês teve que ser forte e pedir forças do alto para conseguir perdoar Raphael e levar sua vida adiante, como uma mulher guerreira, que sempre foi!

❝(...)


— Por quê? Por que fez com que ele me aparecesse? Por que fez com que ele voltasse pra cá? Quando eu já tinha esquecido... Quando eu já tinha aceitado a ideia da sua ausência sem adeus e sem regresso... Por que fez ele voltar? Por que não o deixou onde ele estava? Por que ele tinha que voltar quando minha vida já estava resolvida? Por que o fez voltar se ele pra mim é um morto sem túmulo?❞ (BAF 120)

(CONTINUA DURANTE TODA A SEMANA, ATÉ DOMINGO, DIA DOS PAIS!)


TEXTO: Carmemdf e Elaine Cristina
ARTE: Adriana Fiuza



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